segunda-feira, 14 de abril de 2025

DA SOBREPOSIÇÃO



Grandemente afligido pelos três tipos de sofrimento (tapa-traya)

buscando intensamente libertar-se da escravidão, de modo a ficar livre

desta dolorosa existência, um discípulo, distinto pela longa prática da

sadhāna quádrupla, aproxima-se de um mestre de valor e suplica:


Discípulo: Senhor, mestre, oceano de misericórdia, entrego-me ao

senhor! Imploro-lhe que me salve!

Mestre: Salvá-lo do quê?

Discípulo: Do temor de nascimentos e mortes repetitivos.

Mestre: Saia do samsāra e não tema.

Discípulo: Sendo incapaz de atravessar o vasto oceano do samsāra,

temo os nascimentos e as mortes recorrentes. Assim, entreguei-me ao senhor. Cabe ao senhor me libertar!

Mestre: O que posso fazer por você?

Discípulo: Libertar-me. Não tenho outro refúgio. Assim como a água 

é a única coisa que apaga o fogo quando a cabeça de alguém está em

chamas, também um sábio como o senhor é o único refúgio de pessoas

como eu, que ardem com os três tipos de sofrimento. O senhor está livre da

ilusão do samsāra, possui a mente calma e está profundamente mergulhado

na incomparável Beatitude de Brahman [o Absoluto ou Ser Supremo], que

não tem começo nem fim. Certamente pode salvar esta pobre criatura.

Imploro-lhe que o faça!

Mestre: E que tenho eu a ver com o seu sofrimento?

Discípulo: Santos como o senhor não suportam ver os outros

sofrerem, como um pai não suporta ver seu filho sofrer. É sem interesse o

seu amor por todos os seres. O senhor é o Guru comum a todos, o único

barco que nos leva através do oceano do samsāra.

Mestre: Então, o que o faz sofrer?

Discípulo: Tendo sido picado pela cruel serpente do doloroso

samsāra, estou confuso e sofro. Mestre, imploro-lhe que me salve deste

inferno ardente e bondosamente me diga como posso ser livre.

M: Muito bem dito, meu Filho! Você é inteligente e bem disciplinado.

Não é necessário comprovar a sua competência para ser um discípulo. Suas

palavras demonstram claramente que você está apto. Agora, olhe aqui,

minha criança!

No Supremo Ser do Ser-Consciência-Beatitude, quem pode ser o

transmigrador? Como pode o samsāra ocorrer? O que poderia tê-lo

ocasionado? Como e de onde poderia ele surgir? Sendo a Realidade não

dual, como pode você ser iludido? Com nada separado no sono profundo,

não tendo mudado de modo nenhum, e tendo dormido profunda e

pacificamente, um tolo, ao acordar, grita: “Oh, estou perdido!” Como pode

você, o Ser imutável, Supremo, sem forma e Bem-aventurado, exclamar:

“Eu reencarno – eu sofro!” e assim por diante? Em verdade, não há

nascimento, nem morte; ninguém para morrer ou nascer; nada deste tipo!

D: O que existe, então?

M: Apenas a Sabedoria Beatífica, Suprema, sem início ou fim, não

dual, jamais aprisionada, sempre livre, pura, consciente e única.

D: Se é assim, diga-me como a poderosa e maciça ilusão do samsāra

cobre-me em densas trevas, como uma massa de nuvens na estação de

chuvas.

M: O que se pode dizer do poder de Māyā (Ilusão)! Assim como

alguém confunde uma coluna com um homem, você também confunde o

Eu Real, não dual e perfeito, com um indivíduo. Na ilusão, você sofre.

Contudo, como surge a ilusão? Como um sonho que surge enquanto

dormimos, o falso samsāra aparece na ilusão da ignorância a qual, em si

mesma, é irreal. Daí o seu erro.

D: O que é a ignorância?

M: Ouça. No corpo aparece um fantasma, o “eu falso”, para

reivindicar o corpo para si, e isto se chama alma individual (jīva). A alma

individual está sempre voltada para o exterior; assume o mundo como real e

considera a si mesma a agente e experienciadora de prazeres e dores; deseja

isto e aquilo; não possui discernimento; não recorda, nem uma só vez, a sua

verdadeira natureza, nem pergunta: “Quem sou eu? O que é esse mundo?”;

apenas vaga pelo samsāra, sem conhecer a si mesmo. Esquecer o Eu Real é

a Ignorância.

D: Todos os textos sagrados (shāstras) proclamam que samsāra é

obra de Māyā, mas o senhor diz que é produto da Ignorância. Como

conciliar as duas afirmações?

M: A Ignorância tem diferentes nomes, como Māyā, Pradhāna,

Avyakta (o não manifesto), Avidyā, Natureza, Trevas e assim por diante.

Portanto, o samsāra nada mais é do que o resultado da Ignorância.

D: E como a ignorância projeta o samsāra?

M: A Ignorância possui dois aspectos: Encobrimento e Projeção

(Āvarana-Vikshepa). Destes, surge o samsāra. O encobrimento funciona de

dois modos. Num, dizemos “não existe”; no outro, “não brilha por si mesmo”.

D: Por favor, explique isso.

M: Numa conversa entre um mestre e um estudante, embora o sábio

ensine que só existe a Realidade não dual, o ignorante pensa: “O que pode

ser Realidade não dual? Não, não pode ser.” Como resultado do

encobrimento que não tem início, o ensinamento, mesmo quando

transmitido, é desconsiderado, e as ideias antigas prevalecem. Esta

indiferença é o primeiro aspecto do encobrimento.


Sri Ramanasramam in Advaita Bodha Deepika

MOMENTO

Nem a sombra da manhã fugindo Nem o céu que derrama lágrimas angelicais Nem a tarde que se faz fogo, furiosamente rugindo Nem a noite ...

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