É neste grande momento de convulsão existencial que vos escrevo, o Homem afastou-se mortalmente do reino do espírito apaixonando-se cegamente pela matéria.
O Homem esqueceu-se de onde veio, da
fonte divina da consciência, adotou os modos dos seres inanimados esquecendo-se
que deriva da seiva do mundo vegetal, a qual o alimentou quando a matéria não
era mais do que um pensamento no alvorecer do pensamento.
Esqueceu-se das coisas divinas, o
amor e a sexualidade foram reduzidas a desejos primatas desprovidos de
conteúdo, sabem ainda alguns felizmente que nada disto é real no sentido lato
da palavra, o amor e o sexo são expressões da divina eternidade do espírito que
reside no nosso involucro biológico, estar a catalogar sentimentos desta
magnitude e importância desprovendo-os da sua raiz Universal é arremessar tudo
que veio antes para as trevas do mundo primordial.
Saturno regia esse mundo, ele
subjugou a Deusa Mãe Terra impedindo-a de lar luz à vida, então entrou em cena
o Deus do Sol, a luz permeou aas trevas e a vida tornou forma, depois veio a
queda e a estrela da manhã, Vénus, que trouxe consigo o mal necessário para a
evolução e o Deus da Lua desceu para colocar em cheque esse novo poder
adquirido.
O Homem perdeu-se nos caminhos
subterrâneos, mas em vez de neles encontrar caminho para a salvação através da
iniciação da morte em vida e do renascimento da morte, perdeu-se nas suas
artimanhas e começou a gostar de sangue, embriagado, o Homem banhou-se no
sangue dos deuses e dizimou os seus conterrâneos.
Assim vemos que um mundo criado sob
os doze signos do zodíaco cada um representando um corpo celeste, abandonou o
amor e o divino e eterno significado da intimidade entre seres.
O Homem, pois, rendeu-se à ilusão, e
na beleza por vezes enganadora sentiu que era por ela que o amor e sexo
residiam, por isso bastou um olhar para mudar o rumo de toda uma história.
O Homem via-se agora a fitar fundo
no abismo sabendo que se demorasse o suficiente ele fitá-lo ia de volta, e O
Homem gostou desse sentimento e viciou-se nele, deixou de procurar o amor no
coração, fechou o terceiro olho e a glândula pineal endureceu.
O homem criava agora esqueleto e o
crânio humano, por fim o cérebro e com ele os Homens rejeitaram a mente em
troca do material e imediato prazer, os corações pararam de guiar o amor e o
mundo tornou-se um mar de umbigos embriagados pela sensação que o Sol, um deus
girava em torno de si.
O conceito de beleza pode ser
bastante subjetivo e o facto de apenas um reflexo no espelho poder roubar a
sanidade afastando-nos do verdadeiro caminho torna-se bastante difícil para
aqueles que tapados pelo seu próprio reflexo não vêm além deste, fomos consumidos
pelo imediatismo e pelas máscaras produzidas outrora pela estrela da manhã,
Vénus tomou conta do espírito e a consagrada forma de amar mudou, e o sexo
tornou-se um ato primitivo de apenas estreita reprodução e nada mais.
Aqueles que de nós ainda caminham
nos Mistérios sabem, no entanto, a falsidade desta ideologia e aos poucos
derrotados pelo peso do nosso ego, reaprendemos a viver no espírito, e seguimos
firmes no caminho que nos foi ocultado que a mente precedeu a matéria e que a
matéria é passageira, apenas uma ilha num mundo de consciências interligadas.
O Homem reencontrou na sombra do
carvalho e do espinheiro branco os caminhos da Deusa Mãe, a Terra, nos braços
lunares de Vénus outrora violentos são agora gentis, em casa fase da lua uma
celebração, em cada palavra, música, poema, dança, equação matemática, um
feitiço, o Homem redescobriu a magia através da Natureza, a mesma da qual
descendemos e à qual pertencemos.
Pensar que a natureza foi criada
para nos servir, é a maior arrogância da Humanidade, e agora após tantos anos
de maus tratos vemos como os deuses protetores dos elementos optaram pela via
da guerra, munidos, de tempestades, de trovões, de vagas medonhas de azul
turquesa. Acompanhado pelas dríades e as fadas, os querubins e o povo antigo,
formou um exército e o Homem treme, e teme, e devia, pois, se a Natureza é
destruída nós seremos destruídos também pois pertencemos a ela.
Honremos, portanto, as divindades
que nos suportam, dia a dia e que sempre o fizeram, que tornam a nossa
existência com sentido, pois, somos feitos do mesmo tecido, rendilhado ao longo
de milhares de anos, todos entrelaçados numa formidável criação.
Honremos, pois, o amor e o que brota
dele, a intimidade, o fundir de corpos que vai muito mais além do que um
estéril vazio material e carnal.
Sejamos ousados e vejamos a beleza
mais nas ações e nos corações do que nas velhas máscaras que nós próprios
fabricámos para esconder quem somos.
Sonhemos, pois, e imaginemos, não
nos contenhamos no prazer de fazer fluir a imaginação para questionar a
doutrina que nos fizeram engolir ao longo do tempo.
E que este tempo seja o único, o
único que temos e o único que merece ser vivo, um eterno e terno momento
presente.
Bruno Carvalho