Sou um fantasma deste tempo, o único tempo que existe. Caminhando pelo mundo pelo caminho menos trilhado, observo todos que passam por mim, insensíveis à minha tristeza seguem mudos pelas ruas meio desertas, desnudadas de vãos contentamentos, despejadas de cor e alegria.
A invisibilidade dá-me a pureza de
estar firme e seguro do meu caminho, a solidão é como um cobertor de neblina
que me deixa atento ao verdadeiro caminho sem distrações.
Por dentro o trilho está bem
traçado, cada dia dou mais um passo em direção a mim mesmo, mas o trilho
externo e as forças que nele são exercidas requerem cuidado e discrição, não
posso dar os mesmos passos errados que me levem a novas quedas, a próxima pode
ser a última, não me posso dar ao luxo de escorregar de novo e cair no abismo
do desespero.
A energia que me move advém de te
ter reencontrado no tempo e a cada vislumbre do teu olhar e do teu sorriso o
meu coração dispara e a minha energia explode criando supernovas no meu
universo interior.
És a guia, a Força, eu sou o Louco
Eremita perdido entre dois mundos, temo que não tenho a coragem necessária para
poder ser mais do que sou, para romper esta barreira autoimposta de
insignificância.
Talvez seja isso, talvez deseje ser
ninguém ou nada para alguém, talvez a voz na minha cabeça tenha razão e eu não
mereça mesmo muito mais do que aquilo que sempre tive, vergonha, medo e
desadequação, timidez, introversão, imbecilidade. Talvez sim, a minha voz
interior saiba mais do que a credibilidade que lhe dou, talvez as tentativas de
fugir ao turbilhão sejam apenas as correntes a serem aliviadas, mas nunca
cortadas.
Como um fantasma, um espírito
moribundo perdido num tempo infinito, desencontrado do calor da afeição e da
intimidade, do carinho e da invencibilidade, sou mais uma ilusão criada pela
mente cruel da desesperança, talvez seja isso, um todo cheio de nada.
Sinto-me só e não nego que a minha
fragilidade seja tipo cristal e que se parte todos os dias, num ciclo eterno de
plena inconsciente sigo invisível ao amor, nada me consegue tocar, ninguém
sequer sabe que existo, apenas um fantasma a vaguear, uma carcaça fantasma de
um navio que flutua à deriva sem cais.
Quem me dera ser tudo mesmo não
sendo nada, para ti, por ti, para mim, a alma que em mim reside reconhece a
alma que em ti vive, não largo a corda que me sustenta a este sentimento, entre
um último adeus e uma promessa de futuro feliz caminho inseguro tipo criança
imberbe.
Caio num sono de morte onde apenas o
teu sorriso consegue iluminar o caminho e por entre as cartas do destino
encontro as mil e uma linhas do que pode acontecer, um mar infinito de
possibilidades prontas a serem reveladas pela intuição do Mago e a perícia
espiritual de um Sacerdotisa.
A beleza do teu rosto é o espelho da
infinita libertação, agarro.me a essa memória sedento de ser maior que a minha
dor e ser mais corajoso do que a velha cápsula que sustenta a minha carne.
Um fantasma que vela a tua noite,
beijando-te ao de leve nos lábios e tocando carinhosamente na tua face.
Consegues sentir-me?
Bruno Carvalho
Dez 2024
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