A cada dia que passa parece que me distancio mais do mundo. Cada vez mais sinto-me fora dele e dentro do meu pequeno jardim interior.
Cansam-me as coisas banais.
Enfio a cabeça num livro e adormeço
por entre as palavras, embalado pelo virar das páginas, pairo tranquilo nas
suas histórias, liberto a imaginação e escolho ser eu próprio, imperfeito na
minha perfeita existência.
Não banalizo o amor, é-me querido,
por isso guardo-o sagradamente em mim, na eterna procura pela vibração que é
sintonia com a minha energia, sonho, imagino ter-te (ser sem nome) nos meus
braços, imergindo do mundo, imagino a partilha plena e divina, rica de
experiências.
Consigo finalmente depois de muito
tempo reconhecer-me no reflexo do espelho, o tanto que aprendi é tão pouco, por
isso nada sei, mas sei que busco a pureza da alma e a liberdade do espírito.
Hoje escolho como me apresento no
mundo e ao mundo, livre das amarras de pensamentos limitantes que me fizeram
engolir claro que com a minha autorização, sei o quanto é da minha
responsabilidade, sei que o que é meu e o que eu deixei entrar. Não sou melhor
nem pior, porém não me culpo por estar no plano de consciência em que estou,
todos somos livres do alcançar, basta começar a olhar para o nosso jardim em
vez de invejar o jardim do vizinho, autoconsciência e autorreflexão, admitir a
derrota para por fim vencer.
O vento na minha fronte, o calor na
minha pele, o solo sob os meus pés e a água nas minhas mãos, são as âncoras
para o meu espírito, os sete centros do meu corpo impermanente, todos abertos à
energia universal. Assim nas proporções divinas dos elementos navego num mundo
que se esqueceu de quem é e se perdeu num mar de matéria.
Louvo a minha impermanência, faz-me
ser uno com o momento presente, neste momento onde preciso estar e onde só
posso estar.
Com a idade chego ao entendimento
que por vezes o caminho feito sozinho é mais liso e confortável, sem solavancos
desnecessários.
No entanto como ser interligado
anseio a conexão, mas não vendo a minha alma por essa conexão.
Estou presente no mundo, sou
visível, por isso quem quiser vir que venha, quem quiser ousar conhecer-me que
ouse, mas não pretendam fingir que me conhecem, sou mais que o meu corpo, mais
que a minha profissão, mais que a minha visão política, mais que o meu
dinheiro, mais que os meus gostos, quem vier por bem será sempre bem-vindo ao
meu jardim.
Que venha esse amor paciente, esse
amor que acrescenta.
Não sou perfeito nem ouso fingir que
o sou, mas sei que o caminho que me trouxe aqui custou suor e sangue, lágrimas
e risos, dor… Por isso não renego em momento algum a troco de nada as minhas
crenças, esse caminho solitário que é só meu. Não me peçam para ser quem nunca
poderei ser, não sou expetativa de ninguém, não sou uma lista de supermercado
para suprir vontades alheias.
Nada tenho e nada me falta, sou
guerreiro destemido na defesa da minha alma, um recetáculo de conhecimento que
guardo como escudo à minha existência.
Os confortos estéreis do mundo não
são mais que uma ilusão, uma fantasia, mas não os confundo com a imaginação,
com o fervor que coloco na minha poesia, ela em si é a minha companhia.
E olho em frente para o céu, mesmo
que seja grato pela terra que me sustenta sou feito de asas e de sonhos, fui
feito para voar.
Portanto imagino, imagino-te meu
amor, contigo em mim e juntos como um todo, sem medo de correntes feitas de
lodo, que este mundo atira com vil despudor, porque no fim do dia, é por ti e
só por ti que vivo, minha flor, meu coração cheio de amor e um beijo sonhado
que incendeia o desejo.
Aqui estou nas asas do sonho à
espera do presente, mesmo que dos meus braços estejas ausente, sei que há uma
razão, dar valor à solidão para descobrir o divino significado da paixão.
Três vezes dou e por três recebo,
que a minha demanda continue pura, que os meus gestos sejam conforto e
simpatia, que a minha empatia seja fogo perene para aquecer o teu corpo, pois
somos unos com o Universo e com as almas no mundo disperso.
Amo, sonho, imagino, leio, sou.
Como eterno peregrino acolho a
esperança nesta eterna dança de vida e morte.
Sem perder o norte, sigo sorrindo.
Bruno
Carvalho
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