quinta-feira, 6 de março de 2025

PRESENTE

                 


 

                A cada dia que passa parece que me distancio mais do mundo. Cada vez mais sinto-me fora dele e dentro do meu pequeno jardim interior.

                 Cansam-me as coisas banais.

            Enfio a cabeça num livro e adormeço por entre as palavras, embalado pelo virar das páginas, pairo tranquilo nas suas histórias, liberto a imaginação e escolho ser eu próprio, imperfeito na minha perfeita existência.

            Não banalizo o amor, é-me querido, por isso guardo-o sagradamente em mim, na eterna procura pela vibração que é sintonia com a minha energia, sonho, imagino ter-te (ser sem nome) nos meus braços, imergindo do mundo, imagino a partilha plena e divina, rica de experiências.

            Consigo finalmente depois de muito tempo reconhecer-me no reflexo do espelho, o tanto que aprendi é tão pouco, por isso nada sei, mas sei que busco a pureza da alma e a liberdade do espírito.

            Hoje escolho como me apresento no mundo e ao mundo, livre das amarras de pensamentos limitantes que me fizeram engolir claro que com a minha autorização, sei o quanto é da minha responsabilidade, sei que o que é meu e o que eu deixei entrar. Não sou melhor nem pior, porém não me culpo por estar no plano de consciência em que estou, todos somos livres do alcançar, basta começar a olhar para o nosso jardim em vez de invejar o jardim do vizinho, autoconsciência e autorreflexão, admitir a derrota para por fim vencer.

            O vento na minha fronte, o calor na minha pele, o solo sob os meus pés e a água nas minhas mãos, são as âncoras para o meu espírito, os sete centros do meu corpo impermanente, todos abertos à energia universal. Assim nas proporções divinas dos elementos navego num mundo que se esqueceu de quem é e se perdeu num mar de matéria.

            Louvo a minha impermanência, faz-me ser uno com o momento presente, neste momento onde preciso estar e onde só posso estar.

            Com a idade chego ao entendimento que por vezes o caminho feito sozinho é mais liso e confortável, sem solavancos desnecessários.

            No entanto como ser interligado anseio a conexão, mas não vendo a minha alma por essa conexão.

            Estou presente no mundo, sou visível, por isso quem quiser vir que venha, quem quiser ousar conhecer-me que ouse, mas não pretendam fingir que me conhecem, sou mais que o meu corpo, mais que a minha profissão, mais que a minha visão política, mais que o meu dinheiro, mais que os meus gostos, quem vier por bem será sempre bem-vindo ao meu jardim.

            Que venha esse amor paciente, esse amor que acrescenta.

            Não sou perfeito nem ouso fingir que o sou, mas sei que o caminho que me trouxe aqui custou suor e sangue, lágrimas e risos, dor… Por isso não renego em momento algum a troco de nada as minhas crenças, esse caminho solitário que é só meu. Não me peçam para ser quem nunca poderei ser, não sou expetativa de ninguém, não sou uma lista de supermercado para suprir vontades alheias.

            Nada tenho e nada me falta, sou guerreiro destemido na defesa da minha alma, um recetáculo de conhecimento que guardo como escudo à minha existência.

            Os confortos estéreis do mundo não são mais que uma ilusão, uma fantasia, mas não os confundo com a imaginação, com o fervor que coloco na minha poesia, ela em si é a minha companhia.

            E olho em frente para o céu, mesmo que seja grato pela terra que me sustenta sou feito de asas e de sonhos, fui feito para voar.

            Portanto imagino, imagino-te meu amor, contigo em mim e juntos como um todo, sem medo de correntes feitas de lodo, que este mundo atira com vil despudor, porque no fim do dia, é por ti e só por ti que vivo, minha flor, meu coração cheio de amor e um beijo sonhado que incendeia o desejo.

            Aqui estou nas asas do sonho à espera do presente, mesmo que dos meus braços estejas ausente, sei que há uma razão, dar valor à solidão para descobrir o divino significado da paixão.

            Três vezes dou e por três recebo, que a minha demanda continue pura, que os meus gestos sejam conforto e simpatia, que a minha empatia seja fogo perene para aquecer o teu corpo, pois somos unos com o Universo e com as almas no mundo disperso.

            Amo, sonho, imagino, leio, sou.

            Como eterno peregrino acolho a esperança nesta eterna dança de vida e morte.

            Sem perder o norte, sigo sorrindo.

 

Bruno Carvalho

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