segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

ALMAS

            


 O tempo parou num momento infinito, um ciclo eterno de um fluxo de consciência, de olhos abertos, sob um pináculo de basalto, olhei do outro lado do espelho, a outra dimensão do ser.

            Senti um fluxo de energia preencher-me quando senti o teu toque incorpóreo no meu rosto, os teus lábios feitos de poesia incutida numa consciência da tua essência de luz.

            Olhei o topo da esfera, onde o sol espalhava o seu brilho e abri asas, o reflexo da tua luz faziam-nas carvão incandescente, deste um passo, não que visse, mas de certeza que o senti.

            A tua força, as tuas feridas saradas, cicatrizes da alma totalmente curadas e preencheste o meu coração com essa tua energia universal, e nele a minha fundiu-se na tua, e naquele momento sagrado, selámos o presente com um beijo demorado.

            Entrelaçando os dedos numa roseira brava, senti os espinhos rasgarem a pele, enquanto o sangue fluía para o chão e era consumido pela terra, e daquelas gotas nasciam novas roseiras, estas sem espinhos, deste um sopro e estas desabrocharam, as pétalas voaram formando um círculo no ar que me envolveu.

            Nesse momento soube o que era o amor, muito mais que uma palavra ou um sentimento de contentamento imediato, mais que um sentimento de êxtase ou uma injeção de embriaguez.

            O tempo parado dava significado ao que a empatia havia cimentado e ambos os sentimentos se fundiram, tomaste a tua forma humana e abriste as tuas asas brancas e eu com as minhas negras abracei-te e no abraço os nossos corpos possuíram um ao outro, e tudo em volta explodiu num mundo de cor.

            Abri os olhos e fixei o céu azul, senti os teus dedos nos meus, olhei de lado e vi-te sorrir para mim, tudo em volta era familiar, havíamos voltado da nossa viagem astral, e o relógio andou um segundo, e retomou o seu ritmo normal.

            A suavidade da relva a conexão à terra e a ti formava um círculo de êxtase, de certa forma eramos um, mas com duas partes diferentes, que não se completavam, mas que se pertenciam, cada um com as suas forças e fraquezas, numa sopa cósmica de possibilidades.

            Os problemas de certo não desapareceriam, mas tínhamos as ferramentas e tínhamos os nossos espíritos unidos, e quando as almas eclodiam ao mesmo tempo que os nossos corpos se fundiam, estrelas novas eram criadas no céu.

            Fiquei em silêncio não há muitas mais palavras que consigam descrever-te e ao que sinto, talvez o silêncio diga mais do que as palavras, através do olhar, do sorriso, do toque.

            Partilhemos a paz que o momento presente sempre nos dará, e o que vier virá, que as nossas almas não sejam infetadas com o egoísmo da expetativa e do querer algo que não temos em vez de apreciar e agradecer o que temos agora.

            De certo o mundo é cruel, mas almas antigas conhecem-se sempre, talvez noutra vida vivemos as mesmas cenas em paisagens diferentes, mas o sentimento ficou como resíduo, algo que o tempo jamais lavará.

            É preferível acreditar no que é real do que imaginar o que poderá nunca acontecer.

 

 

Bruno Carvalho

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