O tempo parou num momento infinito, um ciclo eterno de um fluxo de consciência, de olhos abertos, sob um pináculo de basalto, olhei do outro lado do espelho, a outra dimensão do ser.
Senti um fluxo de energia
preencher-me quando senti o teu toque incorpóreo no meu rosto, os teus lábios
feitos de poesia incutida numa consciência da tua essência de luz.
Olhei o topo da esfera, onde o sol
espalhava o seu brilho e abri asas, o reflexo da tua luz faziam-nas carvão
incandescente, deste um passo, não que visse, mas de certeza que o senti.
A tua força, as tuas feridas
saradas, cicatrizes da alma totalmente curadas e preencheste o meu coração com
essa tua energia universal, e nele a minha fundiu-se na tua, e naquele momento
sagrado, selámos o presente com um beijo demorado.
Entrelaçando os dedos numa roseira
brava, senti os espinhos rasgarem a pele, enquanto o sangue fluía para o chão e
era consumido pela terra, e daquelas gotas nasciam novas roseiras, estas sem
espinhos, deste um sopro e estas desabrocharam, as pétalas voaram formando um
círculo no ar que me envolveu.
Nesse momento soube o que era o
amor, muito mais que uma palavra ou um sentimento de contentamento imediato,
mais que um sentimento de êxtase ou uma injeção de embriaguez.
O tempo parado dava significado ao
que a empatia havia cimentado e ambos os sentimentos se fundiram, tomaste a tua
forma humana e abriste as tuas asas brancas e eu com as minhas negras
abracei-te e no abraço os nossos corpos possuíram um ao outro, e tudo em volta
explodiu num mundo de cor.
Abri os olhos e fixei o céu azul,
senti os teus dedos nos meus, olhei de lado e vi-te sorrir para mim, tudo em
volta era familiar, havíamos voltado da nossa viagem astral, e o relógio andou
um segundo, e retomou o seu ritmo normal.
A suavidade da relva a conexão à
terra e a ti formava um círculo de êxtase, de certa forma eramos um, mas com
duas partes diferentes, que não se completavam, mas que se pertenciam, cada um
com as suas forças e fraquezas, numa sopa cósmica de possibilidades.
Os problemas de certo não
desapareceriam, mas tínhamos as ferramentas e tínhamos os nossos espíritos
unidos, e quando as almas eclodiam ao mesmo tempo que os nossos corpos se
fundiam, estrelas novas eram criadas no céu.
Fiquei em silêncio não há muitas
mais palavras que consigam descrever-te e ao que sinto, talvez o silêncio diga
mais do que as palavras, através do olhar, do sorriso, do toque.
Partilhemos a paz que o momento
presente sempre nos dará, e o que vier virá, que as nossas almas não sejam
infetadas com o egoísmo da expetativa e do querer algo que não temos em vez de
apreciar e agradecer o que temos agora.
De certo o mundo é cruel, mas almas
antigas conhecem-se sempre, talvez noutra vida vivemos as mesmas cenas em
paisagens diferentes, mas o sentimento ficou como resíduo, algo que o tempo
jamais lavará.
É preferível acreditar no que é real
do que imaginar o que poderá nunca acontecer.
Bruno
Carvalho
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